terça-feira, 9 de julho de 2013

Que força é essa?

Por Fernanda Felipe


Comecei a bordar com cinco anos. Ponto alinhavo. Lembro-me, direitinho, que minha mãe foi a um armarinho e comprou um bastidor, um paninho com desenho de flor e linhas coloridas. Fiquei encantada com o colorido das linhas. Depois que terminei de bordar, minha mãe fez a bainha e eu brincava que era toalhinha da minha casinha.

Aprendi crochê com 11 anos. Em um grupo de mulheres que se reuniam todas as quartas-feiras à tarde para fazer trabalhos manuais. Minha mãe não conseguia aprender, apesar de ser uma costureira de mão cheia. Eu aprendi muito rápido. Logo estava ensinando. Sempre tive o dom de ensinar.

[caption id="attachment_940" align="alignright" width="300"]Cachecol feito pela Fernanda - Foto: Arquivo Pessoal Cachecol feito pela Fernanda - Foto: Arquivo Pessoal[/caption]

Tricô, aprendi com 12 anos. Em um inverno rigoroso, ficava dentro de casa por causa do frio. Tinha uma prima que tinha vindo do interior, morar com a minha família, para tentar uma vida melhor na cidade grande e fazia muito tricô. Tive mais facilidade de aprender o ponto tricô do que o ponto meia. Meu primeiro trabalho foi um cachecol em ponto barra inglesa.

Cresci e me afastei das artes manuais. Estudei. Fiz faculdade de Geografia na USP. Dei aula. Cheguei a trabalhar em três escolas (duas particulares e uma pública). Cheguei a dar 55 aulas por semana. Coisa comum na vida de muitos professores no nosso país.

Depois de 20 anos trabalhando, veio a crise de ansiedade, a depressão, o transtorno de pânico. Perdi meus empregos nas escolas particulares. Fui afastada da escola pública. Tentei abrir uma loja de moda feminina. Não deu certo. A depressão aumentou. Mesmo medicada não queria mais sair da cama.

Até que um dia, conversando com a Clara Quintela, ela me convenceu a retornar para o tricô, pois conhecia muitas mulheres que o tricô ajudou no processo de recuperação da depressão. Recomecei e não parei mais. Ao contrário, aprendo e me aprofundo a cada dia. Não tem um dia que o tricô não faz parte da minha vida, seja fazendo, seja estudando. Sim todos os dias, inclusive finais de semana e feriados.

Um dia, comentando com minha terapeuta sobre a alegria de fazer tricô, ela me disse que quando tricotamos usamos as duas mãos e, consequentemente, os dois hemisférios do cérebro, então o cérebro chega a entrar num estado de meditação. Por isso, a sensação de bem estar. Além, é claro, da sensação de auto estima melhorada quando vemos a peça pronta (tentei resumir uma explicação que recebi já faz um tempo).

Que força é essa do tricô? Que força é essa que ajuda muita gente a melhorar da depressão? (Eu sou uma prova viva). Que força é essa que faz com que aumentemos o nosso número de amizades? Que força é essa que faz com que um grupo de mulheres melhore a qualidade de vida delas e muitas pessoas? Olhem os grupos que se reúnem para tricotar ou crochetar peças para pessoas carentes?

Que força é essa?

É sobre essa força que pretendo escrever e dividir com vocês o que descobrir. Pois, como ela me ajudou, poderá ajudar muitas e muitas pessoas.

Até a semana que vem pessoal.

5 comentários:

  1. <3
    São por histórias assim que eu não paro nunca.
    Bjos, Fer.

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  2. Assino em baixo. O tricô e suas consequências (grupos, amizades, peças lindas, novas descobertas ...) mudaram a minha vida!
    Linda história!
    Bjs

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  3. Um prazer te ler e constatar que a história da minha vida é semelhante à sua em muitos aspectos. Apenas uma diferença com relação ao tricô, que aprendi sozinha aos 30 anos, mais ou menos, olhando revistas e gráficos.

    Amizades? Melhor coisa do mundo, meu universo cresceu!

    Bjos! ;-)

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  4. Seu relato sensível e verdadeiro confirma mais uma vez o que tenho visto no meu cotidiano.
    È pela aprendizagem e, principalmente, pelo fortalecimento dos laços de amizades nos grupos que o tricô é nosso sustento emocional.
    Bjos e obrigada

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  5. Me comovi com seu depoimento, delicado e sincero, e resolvi dar meu o meu testemuno de que é real, verdadeiro e pode ajudar muita gente.
    Eu sempre me preocupei com a solidão da casa, na 3a. idade e me preparei como pude para evitar isso: o trico foi ponto fundamental para isso, alem da internet e as amigas que fiz devido aos dois. Quando começo a deprimir, pego agulha e fios e vou tecendo, tecendo, acho que teço a vida junto com esses fios.
    Um grande abraço e obrigada por me fazer ver que o caminho esta certo, basta segui-lo com fé!

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