segunda-feira, 22 de julho de 2013

E o crochê, como fica na minha vida?

Por Camila Alves

Eu sempre adorei crochê. Mas eu não sabia que adorava crochê. A primeira coisa que algum dia eu quis fazer com o gancho foram amigurumis. Tenho uma amiga descendente de japoneses, e nem preciso dizer o que eram as lindezas das revistas que ela tinha em casa, em uma época em que internet era discada e não havia Google.

Mas quem disse que alguém se arriscava a fazer aquelas minúsculas criaturas para me ensinar? Nada. Nem mãe, nem tia, nem avó (que na época era viva e que crochetava como ninguém a danada!). Ninguém queria tentar os pontinhos pequeninos dos bichinhos.

Muito bem, nessa missão não fui tão firme. Deixei as cópias dos gráficos de lado, e somente anos mais tarde, enquanto estava em terra, durante um longo período de férias dos mares (sim, eu morei no mar, quando trabalhei em navios de cruzeiro), foi que peguei a agulha e, com a mesma convicção do dia que resolvi aprender a tricotar, achei um gráfico, um fio, e fui. A flor que escolhi, na altura, era a mais difícil da revista. Mas dei conta direitinho.

O problema era que depois de terminado o trabalho, me dei conta que eu gostava mesmo era das rendas em crochê, e aqueles pontos já não eram mais o que eu queria aprender. Olhava na casa de algumas amigas as toalhas rendadas, todas herança, e dizia: "Olha, é isso que eu quero aprender a fazer". Mas a resposta era sempre a mesma: de que a artesã já havia falecido. Mas dessa vez, nada de revistas. E nas minhas buscas pela net (agora sim com Google e velocidade compatível com a de um cérebro em hiper atividade criativa), eu não sabia que aquelas rendas tinhas um nome específico. Por isso não achava nada que me agradasse.

Foi sem querer, conversando com uma amiga sobre um vestido de noiva, que descobri que aquelas rendas eram tratadas como crochê irlandês. Descobri a luz. No fim do túnel, porque o caminho que tive que andar para chegar até aprender a fazer isso foi longo. Pouca informação, dificuldade absurda em encontrar boas agulhas 0.5, 0.6, 0.75, espaço para fixar a peça para a montagem...

Nesse momento, encontrei um site muito bacana, de uma artista brasileira exímia na arte das rendas. Ela me deu dicas e força para aceitar então um pedido: minha prima, a noiva, queria muito que eu confeccionasse o seu vestido de casamento.

Foram meses, com a ajuda absoluta da minha mãe, fazendo motivos e mais motivos, que ao final foram unidos, formando uma renda que recobriu o cetim. Branco, ela não queria, então optamos por um tom pérola, em um fio de algodão sedoso, com brilho sutil.

[caption id="attachment_1123" align="alignleft" width="225"]Vestido ainda sendo montado - Foto: Arquivo Pessoal Vestido ainda sendo montado - Foto: Arquivo Pessoal[/caption]

Foi uma lição de persistência, de flexibilidade e de confiança mesmo. Minha prima mora a mais de 3.000 quilômetros (sim, três mil!) de distância de onde moro. As medidas, tirei quando ela veio passar uma semana em Curitiba, mais de 6 meses antes do casamento. Passei para a costureira, que fez a primeira prova. Enviei via Sedex, e via Skype trocamos ideias e passamos os ajustes para que a peça fosse enfim, finalizada. 4 dias antes do casamento, sai de Curitiba com a relíquia em mãos, para aí sim saber como tinha ficado no corpo.

Em nenhum momento achei que algo pudesse dar errado. Fiquei quase todas as noites acordada, terminando uma parte da peça que só podia ser modelada no corpo da noiva. Foi cansativo, mas foi de longe a coisa mais linda que eu fiz. Porque quando a gente faz algo com o coração, a energia converge, a alegria se instala e tudo flui.

E mais uma vez venho eu com a história da gratidão. Ela me agradece, sem tamanho. Mas e eu, hein? Como não agradecer a oportunidade, a confiança, e o sorriso lindo e sincero quando ela passou por mim, na entrada da igreja?

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