terça-feira, 2 de julho de 2013

O fio da oportunidade

O fio é a matéria prima principal para muitos dos trabalhos artesanais que são realizados

Texto: Iris Alessi

Quem ama tricotar, crochetar, bordar, fazer rendas à mão, sabe que o fio é um dos materiais mais importantes para a execução do trabalho. No mercado brasileiro temos muitas marcas e opções de fios de grandes indústrias.

Mas, nesta matéria (dividida em partes), queremos falar das empresas que encontraram oportunidades de fazer fios de produtos que seriam “jogados no lixo” ou que teriam baixo valor de mercado.

Oportunidade que veio no interior

[caption id="attachment_838" align="alignright" width="300"]Cesta de produtos com as ovelhas do sítio ao fundo - Foto: Divulgação Fiolã Cesta de produtos com as ovelhas do sítio ao fundo - Foto: Divulgação Fiolã[/caption]

A primeira dessas histórias é da Fiolã. O sítio de Ellen Zwick Ely era uma propriedade de lazer onde moravam os pais dela. Em 1999, ela e a família se mudaram para o locar e iniciaram a criar cabras leiteiras. “Não tínhamos experiência no meio rural e precisávamos de alguma renda. Sempre se ouve dizer que é no leite do dia a dia que se mantém uma propriedade rural. Como o leite de cabras tem valor comercial melhor do que o de vaca, e as cabras são animais menores, de mais fácil manejo, optamos por elas”, conta Ellen.

No sítio também eram cultivados morangos orgânicos e hortaliças que eram comercializados para programas de merenda escolar. “O problema é que a cada troca de governo os programas passam por períodos inertes, no qual o pequeno produtor fica à mercê do que o novo governo vai manter ou mudar”, recorda Ellen.

Para trazer novas alternativas sustentáveis e também renda para a família, Ellen e o esposo procuravam fazer cursos de extensão rural oferecidos pelas faculdades da região no interior do Rio Grande do Sul. “Um destes cursos foi sobre a produção ovina na pequena propriedade rural como forma de gerar renda”, diz.

“Quando se fala em produção ovina, lembra-se da carne, raramente alguém pensava na lã. Considerada um sub-produto, até mesmo um estorvo dentro da propriedade, muitas vezes era enterrada ou queimada pelo baixo valor pago ao produtor.”

[caption id="attachment_837" align="alignleft" width="300"]Lãs da Fiolã - Foto: Divulgação Fiolã Lãs da Fiolã - Foto: Divulgação Fiolã[/caption]

A família participou de um grupo que havia feito o curso de ovinocultura. Nesse grupo, algumas mulheres tinham interesse na comercialização de peças produzidas com lã, no entanto, ninguém tinha interesse em produzir o fio. Foi aí que Ellen viu uma oportunidade e foi aprender sobre fiação para poder atender o grupo. “A demanda foi aumentando e sentimos a necessidade de criar uma marca própria para poder colocar o produto no mercado.”

As férias agropecuárias ajudaram o casal a fazer contatos. E a tecnologia teve de entrar no negócio também. “Resolvemos criar um site para divulgar e vender nossos fios. Era uma maneira de alcançar um público sem fronteiras”, conta Ellen.

Mas o desafio não foi apenas transformar um produto que seria “jogado fora” num produto manufaturado. Eles precisaram investir para ganhar a confiança dos clientes, além de mostrar aos clientes as diferenças e vantagens da lã natural. “Outro desafio foi criar credibilidade em um produto artesanal, muitas vezes único”, completa.

“Enquanto trabalhávamos como artesões, sem um empresa formal registrada, não conseguíamos apoio de entidades, pois a “legalização” é uma exigência. É preciso ter CNPJ para poder  emitir nota fiscal eletrônica, participar de projetos e cursos do Sebrae, entre outros.”

O trabalho da família, parcerias e o apoio de amigos fizeram com que surgisse a Fiolã. “A mudança do trabalho com produtos perecíveis e comuns no mercado para um produto diferenciado e que tinha espaço para crescer foi fundamental para a nossa manutenção no campo”, revela.

O mercado da Fiolã foi crescendo e a concorrência nesse mercado também, por isso Ellen sabe que eles não podem ficar parados. “É preciso estar sempre inovando, buscando novas tendências e tecnologias para o aprimoramento da produção e para atender as exigências do público consumidor”, finaliza.

Um comentário:

  1. Tive a oportunidade de visitar este local em 2011. Adorei a experiência! A dedicação e o trabalho para que tudo saia perfeito é grande. Vale a pena! E é claro, trabalhar com fios de qualidade só valoriza o nosso trabalho. Tecer uma linda receita com um fio sem qualidade, é como fazer um prato requintado sem os ingredientes adequados!

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