terça-feira, 2 de julho de 2013

Quantos amigos eu já fiz tricotando?

Por Camila Alves

Estava aqui pensando. Toda atividade que fazemos com certa frequência nos leva ao convívio com muitas pessoas. Escola, faculdade, trabalho, lazer. Existem amigos que seguem conosco desde que somos pequeninos. Outros são colegas, outros passam, deixam o bom de si e levam o nosso bom.

[caption id="attachment_865" align="alignleft" width="300"]A bebê, 10 anos depois - Foto: Arquivo Pessoal A bebê, 10 anos depois - Foto: Arquivo Pessoal[/caption]

E pensei: quantos amigos eu já fiz por conta do tricô? Amigos mesmo, de chorar pitanga, ligar, rir, sair, desabafar, pedir para opinar na decisão crucial da vida? Lembrei então da primeira delas. E o texto virou homenagem.

Como já contei, aprendi a tricotar já adulta. Morava em uma cidade do interior do RS, fazia faculdade em outra cidade, morava com o namorado e não conhecia ninguém (o que não durou muito tempo, claro...). Mudou-se para o mesmo prédio uma moça quase da minha idade. Morava embaixo do meu apartamento e vira e mexe nos encontrávamos para conversar também sobre tricô. Ela estava grávida, finalzinho da gestação. Em um dos encontros, ela de saída para o médico, resolvi acompanhar. Afinal, a moça mudara-se a pouco para a cidade, também não conhecia ninguém e o marido estava viajando. Pensei que, se ela e seus oito meses de gestação tivessem algum problema, ao menos ela não estaria sozinha. Subi correndo, peguei minha sacolinha com agulha e fio e lá fomos nós para a consulta.

Do consultório, ela saiu pálida. Veio até mim e disse: "Preciso ir para a maternidade e não tenho nada pronto". Tentando acalmá-la, perguntei do que ela precisava, fomos até o prédio, peguei o que eu tinha em casa que podia servir para preparar a malinha, ajudei com as coisas dela e da bebê, e fomos até o hospital. Tentamos avisar o marido, mas se hoje sinal de celular é ruim em cidade grande, imagine 12 anos atrás no meio da serra! Deixamos mensagem na caixa postal.

Fiquei até a bebê nascer. Tricotando. Ela foi para a recuperação, o marido chegou. Não soube como me agradecer (e eu pensando: mas agradecer o que, Senhor? Não fiz nada além da minha obrigação de... AMIGA!). Para mim, a confiança dela foi um presente. Para ela, o presente, naquele momento, fui eu. Sempre nos lembramos disso quando nos encontramos. Temos um vínculo tão grande por isso, que não importa distância, nem tempo. Somos muito gratas uma pela existência da outra.

E o que isso tudo tem a ver com tricô? Bem, tempos atrás ela confessou que o que mais chamou a atenção naquela "menina" que a acompanhou no dia do parto foi que existiam muitas opções do que fazer (podia estar com colegas da faculdade, ou estar em casa quentinha, afinal inverno na serra gaúcha não é frio de brincadeira, podia estar estudando, farreando, podia estar no próprio mundo). Mas a "menina" além de preferir estar no mesmo mundo que ela, estava sentadinha na sala de espera com um tricô na mão. Coisa rara, diz ela até hoje. Coisa rara.

Agradeço, então, as outras amigas lindas que o tricô me apresentou. Inteligentes, únicas, criativas, talentosas. Ouvidos, mãos e abraços, sempre, sempre, sempre que preciso!

4 comentários:

  1. Que belo relato, Camila! De fato, o tricô, como muitas outras atividades, traz muita gente pra perto de você, principalmente se vc estiver aberta a isso. E como é gratificante! Ouço sempre uma amiga querida dizer: "o tricô mudou a minha vida". E muda mesmo! Aprendemos a ouvir, dividir o que sabemos, e até podemos passar um dia inteiro na prosa gostosa sem nos cansarmos. É muito bom! E obrigada a você, Camila, pelo lindo texto.

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  2. Muito obrigada, Ilza!
    Não tenho mesmo como agradecer a todo o carinho que recebo dia após dia, e que está diretamente relacionado com as agulhinhas... Conheci pessoas magníficas, e confesso que o Tricota foi uma das coisas de peso para eu escolher ter ficado aqui em Curitiba...
    Namastê!

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  3. Seu relato me fez pensar quantas pessoas especiais o trico trouxe para minha vida, e em quantas salas de espera de médicos e hospitais ele já foi meu companheiro. Você e todo pessoal do Tricota são o exemplo de quantas amizadas o trico pode trazer.

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  4. É Mo, a gente para, pensa e realiza quanta gente boa está à nossa volta por conta de um hábito. Eu adoro cada pessoa que conheço, no grupo, nas lojas, no ônibus, na sala de espera... É gratificante receber a experiência que cada um tem a dividir, e poder também passar o pouco que sei...
    Beijocas
    ;)

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