Segundo hobby

Por Clara Quintela

A coisa que mais fiz esse ano foi tricotar. Tricotar, tricotar e tricotar.

[caption id="attachment_784" align="alignright" width="240"] Meada de fio fiada por Clara Quintela - Foto: Arquivo Pessoal[/caption]

E você aí pensando: que legal!

De fato, é muito legal tricotar. O problema é que, para mim, tricotar é trabalho. Eu crio receitas. E depois que você faz várias, meio que consome um pouco as suas ideias. Dramática que sou, termino dizendo ao Rafael: acabou. É isso. Não tenho mais ideias. Nunca mais vou conseguir criar nada e vou terminar meus dias tricotando receitas dos outros.

Esse sentimento normalmente dura uma semana. Passados sete dias, lá estou eu de novo, com várias ideias pulando na cabeça, doida para testar tudo. Mas, e enquanto esses dias não passam, o que fazer?

No meu caso, eu fio. Quer dizer, eu faço fios.

[caption id="attachment_785" align="alignleft" width="240"] Fiando - Foto: Arquivo Pessoal[/caption]

Tenho caixas e caixas e gavetas e sacolas de fibras. Lã (corriedale, shetland, merino, polwarth, mohair), seda, linho, algodão, nylons coloridos, sea silk, milk silk, nepps, fios, bolinhas, paetês, lurex.... você diga aí o seu preferido que devo ter aqui guardado em algum lugar.

Sempre começo com o jeito mais básico de fiar: faço duas bobinas com fios finos e depois cabeio os dois juntos para dar equilíbrio ao resultante. Embora seja o mais básico, é também, de certa forma, o mais chatinho de fazer. Fiar um fio regular

[caption id="attachment_786" align="alignright" width="240"] Fio bem fino - Foto: Aquivo Pessoal[/caption]

exige mão firme e paciência. Quando eu digo paciência eu quero dizer que te leva umas 20 horas pelo menos para fiar 100gr de fibra numa espessura lace. 20 horas com a mão firme, os olhos a fiscalizar todo tempo se a espessura está se mantendo, com cuidado para não quebrar o cabinho tão delicado. Vinte horas de meditação, porque não dá para fazer outra coisa que não seja ouvir nesse período - ok, dá para cantar também. Olha, é um saco. Mas necessário. É isso que dá o treino. Uma vez que você consegue treinar sua mão, outras técnicas ficam mais fáceis.

[caption id="attachment_787" align="alignleft" width="175"] Foto: Arquivo Pessoal[/caption]

 

E aí, depois de fazer esse fio, eu me sinto livre para tentar outros mais artísticos, com loops, locks, molas, nuvens. Ao mesmo tempo em que minhas mãos vão dando formas a pedaços de fibras, eu vou analisando a possibilidade de cada fio que vou criando e normalmente, ao final, já tenho uma nova inspiração para tricotar.

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