segunda-feira, 24 de junho de 2013

Criar e receitar

Por Camila Alves

É o meu trabalho. Olho para o novelo novo e tento encaixar a sua textura em alguma peça que eu, mais tarde, me orgulhe de ter criado. Penso, então, em todas as pessoas que desejam saber como fica aquele novelo felpudo estranho trabalhado. Meu tempo, geralmente, é escasso para essa criação e execução. Assim como o número de novelos da mesma cor. Ou seja, é uma criação a jato de uma peça pequena que se transforme em algo digno de ser desejado pelo consumidor. Ufa!

Me transporto, pois, alguns minutinhos para um mundo que nem sei onde fica, e começo a tecer. Começo alguma coisa que não necessariamente consigo explicar assim, de pronto. Já acostumei às caras de espanto de quem me pergunta no que se transformará aquela 'tripa', quando respondo, por exemplo, "Isso vai ser um colete".

Mas a peça está ali, pronta, na gavetinha do cérebro. E vai laçada, vem ponto meia, volta arremate e alguns pontos a espera. Puf! Ali está o colete. Olho de cá, olho de lá, não me convenço muito, mas tudo certo. Consigo mostrar como fica o fio trabalhado e que com ele é possível criar peças bem usáveis.

Eis que surge uma pessoa daqui, outra dali, olham o colete, pedem para pegar, chamam a amiga, a mãe, o namorado. Pedem receita (que receita, meu Deus, se mal acabei de tricotar um colete em pé, penso eu), pedem dicas, explicações. E vem a ideia: "Por que não fazer uma aula dessa peça, já que tanta gente gostou?”.

Aí penso como são curiosas as coisas. Quase tudo que eu já inventei em tricô e crochê nessa vida não tem foto, não tem receita escrita, não tem histórico. Porque nunca, mas nunca mesmo achei que alguém além de mim fosse gostar. E de repente, como num passe de mágica (para mim é exatamente assim, como um passe de mágica!), vejo uma sala lotada, gente com material para fazer 2, 3 peças recém-criadas. Corro para tirar mais cópias da receita, escrita amadoramente à mão. Explico o que será preciso fazer para personalizar as medidas, os detalhes. E ao final de algumas horas, ganho de cada uma um beijo, e um muito obrigada do tamanho do mundo. Nessa, mal consigo dizer que quem agradece sou eu!

4 comentários:

  1. Camila, é assim mesmo... Nem sempre damos tanto valor às coisas que criamos. Mas são como nossos bebês! Adorei a ideia de se transportar a um lugar para tricotar, criar, tecer. Isso se casa com o que penso: tricotar, tecer é mesmo uma viagem! E que ótimo quando se tem reconhecimento e se observa felicidade nos olhos de quem aprendeu a fazer algo que nós criamos. Agora, trate de documentar seus trabalhos! Isso é muito importante para você mesma, para a sua carreira! Bjo!

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  2. Ô, Ilza querida! Muito obrigada!
    Estou tentando não perder esses registros agora... Mesmo que eu não ache lá tudo de bom, tiro uma fotinho ou outra. O próximo passo é começar a escrever as receitas direitinho, para dividir com quem goste. Tantos blogs, o próprio Ravelry [paradise]...
    Por que não mais esse passinho, não é?
    Beijos
    ;)

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  3. Oi Camila, você é muito talentosa. Só você é que ainda não sabe disso, pois nós que te conhecemos já sabemos há muito tempo. Escreva, fotografe, documente e publique suas receitas. Esta é sua profissão e você deve se valorizar. Você merece muito sucesso! Bj.

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  4. Anne, querida!
    Perto de vocês me sinto sabendo nadica de nada...
    Por isso cada elogio e incentivo é uma imensa alegria!
    Vou começar a me esmerar nas anotações. A começar pela capinha que você me ajudou a fazer!
    Muito obrigada sempre!
    Beijocas,
    ;)

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