O valor das coisas

Por Clara Quintela

Esse é um post mais genérico, aplicável não apenas ao tricô.

Minha irmã e seu marido compraram uma casa. Linda, ótima, iluminada, espaçosa, com piscina no quintal. Mas longe do centro, com transporte público reduzido a apenas duas opções. Pelo mesmo valor que eles pagaram, se eu quisesse comprar um imóvel para mim na cidade, do lado do metrô, teria que me contentar com um apartamento de dois quartos e olhe lá, talvez tivesse que pagar mais caro ainda.

Quem saiu perdendo? Quem saiu ganhando? A que pagou menos e comprou um casarão? A que pagou mais e tem um apezinho do lado do metrô?

Na minha opinião, as duas. Ela está feliz com a casa dela. Eu estaria feliz com o meu apartamento de dois quartos perto do metrô.

Você não precisa concordar comigo porque não existe uma só resposta. O que eu quero aqui é justamente levantar essa discussão.

Para eu dar a minha resposta levei em conta um só aspecto: a importância que uma coisa assume de acordo com os valores de cada pessoa.

Para a minha irmã, é importante uma casa grande, espaçosa, com jardim e quintal. Ela quer ter filhos, quer convidar os amigos no fim de semana, quer hospedar a família quando vier passar férias. Ela não liga em ter que dirigir toda vez que precisar ir no supermercado, farmácia, cinema.

Para mim, que não dirijo e nem tenho pretensão de aprender, prefiro uma vida urbana, perto de tudo, todas as conveniências a poucos metros de casa. Meus gatos não saem a rua e eu ficaria louca se morasse nunca casa, com medo de extraviar alguém. Por fim, tenho horror a faxina e, portanto, quanto menor o espaço, menos tempo gastaria para organizar e limpar tudo.

Duas pessoas. Duas necessidades distintas. Dois estilos de vida completamente diferentes. E nós duas somos felizes sendo como somos.

"Ok. Entendi. Mas o que isso tem a ver com tricô, Clara?"

Vamos falar do nosso material de trabalho. Fios, agulhas, marcadores...

Você é daquelas que acha que só fio caro presta? Ou daquelas que acham que isso de material caro é besteira, o que vale mesmo é o seu trabalho?

Primeiro, vamos pensar quais são os seus valores:

* você quer que seu trabalho fique mais bonito.

* você quer mais conforto na hora de tricotar.

* você gosta de tocar em fibras suaves, macias, delicadas, brilhantes, que deslizam entre os dedos.

* você gosta de usar/vestir coisas exclusivas (cores tingidos manualmente, coleções limitadas)

* você detesta ter trabalho na hora de lavar roupa e quer jogar tudo na máquina e pronto.

* a pessoa a quem você quer presentear é muito especial.

* você não gosta do toque da lã e prefere fios mais secos.

* você tricota para caridade onde quantidade é mais importante que qualidade.

* você está guardando dinheiro para comprar outra coisa e não quer/não pode ter mais despesas agora.

* você não se incomoda com agulha de plástico, agulha com dente (na junção do cabo com a haste, no caso das circulares).

* você só gosta de agulha reta.

* você se atrapalha com marcadores.

* ____________ (acrescente o que é importante para você)

 

Baseado nas suas respostas é que você vai saber ao certo o quanto o tricô é importante na sua vida e o quanto ($) você quer investir nisso.

Se você acha que tal aspecto é fundamental, que seria impossível (ou no mínimo, muito inconveniente) tricotar sem isso, preço seria uma coisa secundária. Importante, sim, mas não em primeiro lugar nos seus critérios de decisão.

Ou seja, pagar mais caro ou pagar mais barato é uma decisão pessoal.

E fica a dica: o quanto você gosta e o quanto você paga para ter o prazer de tricotar é algo que interessa só a você. Não espere que outras pessoas tenham os mesmo valores e nem que te entendam e te apoiem. E mais importante ainda, nada de criticar quem não pensa ou age como você.

Enquete: quais são seus valores?