Era uma vez uma tricoteira...

 

Por Clara Quintela

Essa tricoteira não teve o prazer de aprender a tricotar com sua mãe, tias e/ou avós. Ela já aprendeu adulta, em 2004, no primeiro encontro de tricoteiras que ela participou, com outra moça, também adulta com idade parecida, chamada Silvia.

Tão logo aprendeu, ela gostou tanto da brincadeira que se jogou com tudo em todo armarinho e loja virtual que encontrava. Não tinha uma semana em que ela não chegasse em casa com uma sacolinha. Como ela gostava muito de cores e estava treinando com cachecóis, comprava de 1 a 2 novelos coloridos/peludos/bolotudos.

Depois de 18 cachecóis, ela enjoou e quis tricotar algo diferente. Mas no seu estoque não havia mais de duas bolas iguais. Fora que era tudo fio cheio de "frescurites". Então ela juntou tudo em várias sacolas e doou para grupos de caridade.

Isso feito, ela começou a refazer um novo estoque. Agora comprava pelo menos 5 novelos iguais, principalmente se gostasse da cor. E o estoque foi crescendo de novo.

Alguns anos se passaram, ela tricotando seus novelos mas o estoque magicamente só aumentava. Enquanto tricotava, ela estudava as propriedades das fibras.

Lã (das mais variadas raças de ovelhas), acrílico, poliamida, seda, viscose... tudo isso ela experimentou e depois leu sobre o assunto "fibras". Resultado: ela ficou infeliz de novo, porque no seu estoque , onde ela se preocupou apenas com cores bonitas, estava cheio de porcaria. Então, mais uma vez, ela juntou tudo em várias sacolas e doou para grupos de caridade.

Agora, sim, ela pensou. Só vou comprar fios de qualidade.

[caption id="attachment_367" align="alignleft" width="300"] O meu estoque de fios atualmente - Crédito: Clara Quintela[/caption]

E recomeçou a fazer estoque novamente.

Mais uns anos se passaram, e ela teve que mudar de cidade. Espaço reduzidíssimo na mala, ela teria que livrar do estoque de novo. Desta vez, ela doou só uma parte para a caridade e vendeu o resto para arcar com as despesas da mudança. Cada coleção de novelos que ia embora, era uma pontada no peito.

Lá pela 27a. pontada, ela decidiu: só iria comprar agora quando de fato precisasse. Até porque, ela lembrava, quanto mais novelos guardados, mais a sensação de "preguiçosa" tinha - embora não fosse verdade, pois estava sempre tricotando e toda semana alguma coisa saia de suas agulhas. Só num ano foram 42 peças feitas.

Mas comprando só o que se precisa, na hora em que se precisa, ela a) não precisava se preocupar com lugar para guardar tudo (e esconder do marido); b) poderia frequentar o armarinho toda semana praticamente e ver as novidades; c) economizaria dinheiro que poderia ser aplicado em fios de qualidade e, por que não?, fios de luxo vez ou outra.

E assim ela viveu feliz para sempre.

 

 

 

Essa historinha é a minha. Acredite: eu tenho hoje não mais que 30 novelos guardados no meu armário - cerca de 70% deles foram novelos que eu ainda trouxe na mala comigo, porque eram "de estimação", mas ainda não consegui usar por falta de ideias, mal de quem compra por impulso, sem ter um projeto específico para aquele tipo de fio já em mente.

Quando você já sabe o que vai tricotar, é diferente. Você compra na medida para não faltar e sobrar pouco. Fora que, comprando só o que se precisa, você pode gastar um pouco a mais e investir em qualidade.

Mas, mais do que tudo isso, eu preciso de paz de espírito. Quando tenho muitos novelos, fico me cobrando tricotar mais, mesmo que eu tricote todos os dias. Com pouquinhos novelos, estou sempre pensando: "hmmm... preciso passar no armarinho". Sem um pingo de culpa na consciência.

 

ENQUETE: Como é o seu estoque? Você investe em quantidade ou em qualidade?

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