Por Fernanda Felipe
Na antiguidade, a mulher era considerada Deusa. Os homens não entendiam como as mulheres engravidavam e geravam uma nova vida. E, segundo os arqueólogos, isso era motivo de respeito e adoração. Muitas estátuas e templos foram construídos para as mulheres.
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Nas principais mitologias, Deusas eram responsáveis pelo destino das pessoas. Normalmente eram representadas em três Deusas, a mais nova separava a lã para o fio da vida, a adulta fiava e a mais velha, com toda sua sabedoria, sabia a hora de cortar o fio da vida. É só ver as Moiras na mitologia grega, as Parcas na romana e as Nornas na nórdica, citando só as mais conhecidas.
Acredito que, na antiguidade, a mulher não era venerada apenas por dar a luz, como diz alguns arqueólogos, mas porque também entendia as energias da natureza e os trabalhos manuais. Isso era tão forte e tão presente naquelas sociedades que eram Deusas que cuidavam do destino da humanidade. E eles usavam a fiação como símbolo para mostrar a força dos trabalhos manuais.
Pena que com o patriarcado esses conhecimentos foram deixados de lado. Mas hoje temos abertura para resgatar esses ensinamentos de uma forma mais consciente. Não só pelo fato de realizar um trabalho e sim como uma coisa que faz bem para o corpo e alma. Uma energia capaz de curar.
Está na hora de, nós que trazemos em nosso DNA esse aprendizado, mostrarmos como a energia dos trabalhos manuais, no meu caso tricô, é importante para a saúde das mulheres da nossa sociedade.
Já começamos. Muitas mulheres já foram “curadas” da sua dor na alma. Muitos grupos de mulheres estão fazendo cachecol, mantas, xales, meias e um monte de outras coisas para aquecer os necessitados. Isso é muito positivo, mas infelizmente ainda temos um longo caminho pela frente para acabar com o desconhecimento e preconceito. Infelizmente anos de patriarcado fizeram com que essas artes tenham se tornado uma coisa de segunda categoria na nossa sociedade.
O preconceito ainda é muito grande. Semana passada encontrei alguns professores com que trabalhei e que continuam dando aula. Me perguntaram o que eu estava fazendo, já que não estava mais dando aula. Falei que fazia tricô e que estava descobrindo um novo mundo. Eles me olharam com aquele olhar de piedade, como quem diz: “Coitada ainda está tão deprimida que só faz tricô”. Um chegou a me perguntar: “Mas só isso?”. Outro dia uma amiga minha me contou que o marido não a deixava fazer tricô por que tricotar é coisa de velha e que não quer que ela pareça velha.
Esse preconceito só ajuda o patriarcado se fortalecer, principalmente, por que nos afasta dessa força. E assim, a mulher continua com sua dor na alma, parecendo que está faltando um pedaço e sentindo um vazio por dentro.
Muito já foi feito, mas ainda há muita coisa para fazer. Mesmo com tudo isso, a cada dia mais mulheres têm contato com essa energia. A cada dia essa força cresce e contagia outras mulheres e assim espero que um dia, não muito distante, essa força seja conhecida e respeitada novamente. Favorecendo assim o retorno das Deusas.
Eu escuto frequentemente a pergunta:
ResponderExcluir- Você faz o quê?
E eu respondo:
- Sou tricoteira.
-Ah, sei... mas e como trabalho.
-Sou tricoteira.
- Sim, sim, mas e pra viver?
- S-o-u t-r-i-c-o-t-e-i-r-a!