Linda shawl

Por Clara Quintela

A gente sabe que está ficando "importante" na vida quando ganha patrocínio.

Há duas semanas, fui a St. André-Avellin, uma cidadezinha que fica a cerca de 1h40 de Montreal, para um evento chamado Twist Fiber Festival.

O evento tem uma feira de produtos afins, oficinas, exposição, palestras, apresentações. O ponto principal é celebrar as fibras, principalmente as naturais, e a fiação, mas atividades como tricô, crochê, feltragem, tingimento, tecelagem também são celebradas.

Essa foi a sua segunda edição e a segunda vez que participo. Além de estar trabalhando para a Maison Tricotée, que teve um stand lá (também pelo segundo ano). Este ano, me matriculei em duas oficinas de fiação para me aperfeiçoar, só que para a segunda, tivemos um contratempo na equipe que me obrigou a cancelar a aula. Invés da segunda aula de fiação, decidir trocar por uma de tricô com art yarn, com o designer dinamarquês Vithard Villumsem.

Por art yarn, entenda fios malucos, com muita textura e misturas interessantes de fibras.

Como mudei a aula já estando lá, tinha um problema nas mãos: não tinha muitas agulhas e não tinha levado nenhum fio artístico de minha autoria. Como estava num festival de fibras, saí à caça na feira de algo que me servisse para a aula e me deparei com as criações lindíssimas de Linda Tait, uma fiandeira competentíssima que mora em Ottawa e que havia sido minha companheira de classe no ano anterior.

Aí, outro problema (haja problema!): o stand dela não aceitava cartão de crédito/débito. Virei os bolsos do avesso, sacudi a mochila, catei as moedas, juntei tudo e bateu exatamente com o que eu precisava para comprar a meada que queria, uma rosa com pompons, galão rendado fininho e lã, claro.

Na hora de pagar, a Linda me pergunta porque eu estava comprando dela. Eu explico a situação toda, que tinha mudado de curso e não tinha trazido nada feito por mim.

Ela: Espera. Você quer usar meu fio numa aula de tricô criativo?

Eu: Sim.

Ela: Você vai criar uma peça em tricô com o meu fio?

Eu: Sim.

Ela: PELAMORDEDEUS, escolhe e leva o que você quiser!

E ela me explicou que ela tricota muito pouco e que toda vez que alguém vem ao stand dela é geralmente a mesma conversa: a pessoa vem, acha lindo, mas não compra porque não sabe como e para quê usar. Que tudo que ela queria e precisava era de receitas para mostrar os diferentes usos, como misturar com fios comerciais, e dar ideias aos clientes.

Da aula, saiu o Linda Shawl (fotos), um xale triangular que mistura o fio da Linda (bulky, pink e com pompons fofinhos) com um fio comercial de mohair e seda (espessura lace) e o nosso brasileiríssimo Sock Superwash Da Fazenda (espessura fingering) fazendo a barra rendada na parte inferior do xale, dando um acabamento mais profissional. Quer dizer, não é porque o fio é todo enfeitado que precisa ser tudo em cordão de tricô e/ou ponto jersey. Dá para sair do convencional, sim.

A receita, se é que a gente pode chamar isso de receita, está no Ravelry.

Agora eu devo enviar a peça e a receita para ela levar às feiras que participa. Espero que suas clientes aprovem. :)